Quando se perde o espírito do natal


Este ano, eu estava muito animada com o natal, preocupada em decorar a minha árvore com enfeites dourados, pendurar uma meia superfofa com um boneco de neve que eu comprei e tudo o mais, mas, mais uma vez, eu perdi o espírito de natal. Como? Eu acordei numa manhã com a minha mãe resmungando e dizendo que me deixaria passar o natal sozinha – bem, a menos, é claro, que eu decidisse viajar com ela para a casa da minha avó, e é claro que eu não quis - . Imagine só passar o que deveria ser um dia mágico e especial com seus parentes chatos? Não mesmo. Eu me sentiria péssima porque meus parentes são assim, não importa o quanto você se esforce para agradá-los, nada nunca está bom. Sem contar que eles fazem o que podem para te depreciar e diminuir sua autoestima. É um saco. Na penúltima vez que os vi, briguei feio com eles e mandei eles sumirem da minha casa. Na última vez que os vi, eles estavam tristes porque uma antiga amiga da família tinha morrido, e não nos falamos. Desde então, eu não vou a cidade deles e nem na casa deles. Do que depender de mim, não vou nunca mais. Eu até imagino as coisas ruins que eles diriam a mim se me vissem novamente – já dizem pelas costas, que eu sei… - mas imagina na frente… Por isso, eu vou evitar reencontrá-los até que me sinta bem comigo mesma e, com forças para ser educada o bastante como a Blair Wardolf (Gossip Girl) e, apenas sorrir e balançar a cabeça, concordando ou discordando. Não é fácil para mim lidar com críticas, ainda mais, quando vem da minha própria família. E, o que mais me irrita é que todos eles têm podres, mas só enxergam os defeitos uns dos outros. Tem tanta coisa que eu poderia atirar na cara deles só para arrancar aqueles sorrisos idiotas de suas faces estúpidas e vê-los envergonhados e irritados... Mas o Natal é a época de perdoar tudo e todos, não é? Eu não deveria esquecer isso tudo e deixar para lá, e apenas encher meu coração de alegria e paz? Eu fazia isso todo ano, mas não faço mais porque eu perdi o espírito do natal. E, sem espírito de natal, eu não me sinto boa o suficiente nem para perdoar nem para esquecer ofensa alguma. Tudo o que eles disseram e fizeram está aqui na minha cabeça, rodando como um maldito filme de terror, sem fim. Cada palavra afiada como a lâmina de uma faca e carregada de veneno que eu fui obrigada a engolir ainda me fere. Eu esqueceria se tivesse certeza de que eles mudariam e não cometeriam o mesmo erro, mas pessoas, dificilmente mudam, e cedo ou tarde, voltam a cometer os mesmos erros. Sim, eu os amo. Mas não sou masoquista. Na próxima vez que os vir, vou sorrir e ser gentil e educada – pelo bem da família —, mas é só isso. Nunca mais vou confiar neles nem dar liberdade para se meterem onde não são chamados. De agora em diante, é assim que vai ser. É assim que os adultos fazem, não é? É assim que se joga, não é? Pois, agora eu aprendi. Não é falsidade. É só a regra do jogo da convivência, “perdoe”, mas não esqueça. Perfeito. Eu acho que consigo. Vou começar com a minha avó que está vindo para cá, passar o Réveillon conosco.
No ano que vem, não vou mais comemorar essa data tão amarga. Chega de árvores, meias e ceias. Isso tudo é uma mentira e a gente só gasta dinheiro com bobeiras. E para quê? Para nada. Há muito tempo, eu deixei de me importar com a Páscoa. O Natal acabou de ser riscado de minha listinha também. Os judeus estão certos em não comemorar essa droga. Nem é o aniversário de Jesus, na verdade. Então, comemorar o quê?
A minha noite de natal foi “perfeita”, uma ceia farta, doces, panetones… Mas faltou uma coisa que tem me faltado ano após ano: felicidade. Não era falta de Jesus – embora, eu ainda acredite que ele seja o verdadeiro espírito de natal – nem de amigos, nem de namorado. Faltava vontade de sorrir mesmo, de me sentir completa. É difícil explicar essa sensação, sabe? Eu queria estar com toda a minha família, mas eles me magoaram tanto que eu consegui perdoá-los. Não consegui perdoar ninguém. Por mais que eu tentasse me lembrar das boas qualidades de todas as pessoas que me fizeram mal, eu não consegui. MAS O NATAL É A ÉPOCA DE PERDOAR… Não. Não é não. Mas vamos fingir que sim…
Ela chegou, minha adorada avó (a primeira a me julgar sempre) chegou! Então… É só sorrir e, que comece o jogo do faz de conta.
 

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