O Amanhecer Das Feiticeiras - Capítulo 1 - Perdido na escuridão


 

16 de abril de 2014

 

 

Era uma manhã fria em Large Field. Poucos estudantes tiveram coragem de deixar suas camas aconchegantes para irem ao colégio.

 São Marcos era um prédio de quatro andares com uma quadra grande de basquete, um campo de futebol e um salão de natação. Os jardins eram bem cuidados, os pátios e corredores amplos. Mas, apesar de seu tamanho, estava longe de ser o colégio perfeito.

 O quarto andar estava em reforma desde o ano passado. As carteiras estavam rabiscadas com palavrões e desenhos obscenos. Os muros foram pichados e vez ou outra sumiam computadores ou coisas do laboratório. Sem contar as brigas que aconteciam durante o intervalo ou em campo. Sem dúvida, São Marcos era o inferno.

Enquanto o professor Armando enchia a lousa de exercícios, Christopher olhou para o lugar vazio de Alexander e suspirou. Já fazia duas semanas que seu amigo estava cabulando aulas. O pior era que ele ia ao colégio e em vez de estudar, preferia arranjar confusão, provocando os outros alunos.

Christopher sabia que se Alexander continuasse agindo como um idiota, reprovaria outra vez e o que ele menos queria era que seu único amigo – o único que não o achava esquisito -, reprovasse. Já era ruim o bastante não ter com quem formar dupla no laboratório, então, imagine passar o ano seguinte sozinho… Sem ninguém com quem conversar? Ele já estava pensando em deixar o colégio e voltar a estudar em casa.

— Ei, está pensando no quê? — Lorena perguntou.

Ele virou-se encarando a albina, de belos olhos castanhos. Então, deu de ombros.

— Aposto que ele está assim por causa do ruivo. — Disse um garoto de cabelo castanho escuro, que estava sentado atrás de Lorena. Ele usava uma camiseta rosa, uma calça jeans justa e um all-star preto. Suas unhas estavam pintadas de preto e ele usava uma sombra rosa nos olhos e um pouco de brilho nos lábios. Seu nome era Jake e ele era o melhor amigo de Lorena.

Lorena riu, baixinho, concordando com Jake. Christopher revirou os olhos, irritado com os dois.

Que ideia… Ele não era gay! Só se preocupava com um amigo. Como alguém podia ver malicia nisso? Jake achava que todo mundo era igual a ele!

Christopher virou-se para frente e começou a copiar o que estava na lousa em seu caderno.

Lorena se inclinou para se aproximar de Christopher. Jake se abaixou e com um sorriso malicioso olhou a calcinha dela.

— Você vai à festa da Iris, essa noite? — Lorena sussurrou no ouvido dele o deixando arrepiado.

Christopher tinha uma queda por Lorena, mas nunca admitiu por ela ser namorada de seu irmão Adam. No entanto, Christopher suspeitava que Lorena sabia pela forma como se insinuava para ele, sempre o provocando.

— Ainda não sei. — Christopher foi grosso sem querer.

— Ai! — Lorena fez um bico.

Jake se endireitou e olhou para o lado para ver se alguém vira o que ele acabara de fazer. Seus olhos encontraram os de Harriet, que como sempre, o encarava de forma obsessiva. Seria assustador se Jake não gostasse de ver a garota morrendo de amor por ele. Só para provocá-la, piscou para ela, fazendo-a sorrir para ele.

Christopher sentiu o celular vibrar em seu bolso e o pegou. Acabara de receber uma mensagem de Alexander. Curioso, ele abriu a mensagem e leu-a:

“Te espero no porão.

Enviado por Alex”.

O que podia ser tão importante para Alexander chamá-lo no meio da aula?

— Ah, olha só isso! — Falou Lorena rindo ao ver a mensagem que Christopher recebeu.

— O quê? — Perguntou Jake curioso.

— O que está acontecendo? — O professor se virou, irritado com a interrupção. — Por que tantos risos e sussurros? Jake? Lorena?

— O quê? Não fiz nada, professor. Juro! — Falou Jake com ar de quem aprontou algo.

— Sei… É o santinho da classe. — Falou o professor com sarcasmo.

Lorena se endireitou rapidamente e começou a escrever, na esperança de que o professor a ignorasse.

— Santinha! — Jake corrigiu o professor, arrancando alguns risos da classe.

— Que seja! — O professor ajeitou seus óculos e engrossou a voz como quando queria mostrar que estava falando sério. — Ou se comporta ou o mando para a detenção! — O professor virou-se e voltou a copiar a lição na lousa, esquecendo-se de dar uma bronca em Lorena.

Lorena sorriu. Mais uma vez, seu truque deu certo.

— Com licença, professor? — Christopher levantou-se e esperou que o professor lhe desse atenção.

O professor virou-se e encarou Christopher. Ele era um de seus alunos preferidos, por isso, ele dava atenção especial a ele.

— Sim, Christopher? — Disse o professor.

— Será que posso ir ao banheiro? — Christopher não se sentia bem mentindo para alguém tão legal quanto Armando, mas não tinha outra opção senão aquela.

— Ok. Não demore? — Falou o professor.

— Sim. Obrigado, senhor. — Disse Christopher antes de deixar a sala.

 

† † †

 

Lá estava ele, parado na escadaria que levava ao porão. Sua jaqueta jeans estava amarrada de qualquer jeito a sua cintura. Os cadarços de seu all-star encardido estavam desamarrados. Sua camisa do Slipknot estava rasgada na altura do ombro. Seu cabelo naturalmente ruivo estava desgrenhado. Ele fedia a cerveja e cigarro.

— Você veio! — O ruivo sorriu ao ver Christopher se aproximando.

— Tomar um banho de vez em quando é bom, sabia? — Falou Christopher.

— Eu tomaria se tivesse um banheiro. — Falou Alexander chateado.

— Ah, na sua casa não tem um, né?! — Falou Christopher balançando a cabeça.

— Não estou mais em casa! Discuti com meu pai e com minha madrasta e fugi. — Disse Alexander.

— Como assim, fugiu? Para onde? — Disse Christopher.

— Ah! — Alexander suspirou e cruzou os braços, fazendo cara feia. — Estou ficando em uma construção abandonada, sabe? De boa… Tenho alguns trocados. Vou sobreviver. E de mais a menos, eu como no colégio.

— Meu deus! O que você tem na cabeça? Não pode viver assim! — Falou Christopher.

— Eu não posso é viver com aquela estúpida que o meu pai arranjou para substituir a minha mãe. — Falou Alexander revoltado.

— Por que não vai embora com seus avós? — Sugeriu Christopher.

— Eles não me querem! Minha mãe não me quer! Ninguém me quer! Aposto que se eu morresse agora, ninguém sentiria minha falta. — Alexander chorou, nervoso.

— Sua mãe não pode cuidar nem dela mesma! Coitada! — Falou Christopher.

E era verdade. A mãe de Alexander vivia em um hospital psiquiátrico desde que ele tinha oito anos de idade. Era uma mulher bondosa, mas muito doente.

— Ele é um infeliz! — Falou Alexander. — Não podia tê-la abandonado. Ele deveria cuidá-la e amá-la para sempre. Desgraçado! Odeio mais ainda aquela vadia que ele botou no lugar da minha mãe.

— Alex? Tente entender… A sua mãe é uma mulher doente. O seu pai tinha o direito de refazer a vida dele. Além do mais, já faz anos que ele está com a Eva. Já era para você ter superado. — Falou Christopher.

— Superado? — Repetiu Alexander apagando seu cigarro. — Cara? A Eva faz o que pode para me tirar do sério. Não aguento mais!

— E as suas irmãs? Pense nelas? Elas devem estar preocupadas com você. — Mas então Christopher se lembrou que Iris daria uma festa aquela noite.

Alexander abaixou a cabeça, aborrecido.

— A Brittany, sim. Mas a Iris… E olha que a Brittany nem é minha irmã e se importa mais comigo que a Iris.

— Se quiser, pode ficar na minha casa. — Disse Christopher. — Não acho que Adam se importe.— Valeu cara, mas não quero incomodar. — Disse Alexander.

— Você nunca incomoda. — Christopher ouviu o sinal tocar. — Eu tenho de ir. Nos vemos depois?

— Tudo bem? — Disse Alexander estendendo o braço com o punho cerrado.

— Tudo bem. — Christopher tocou no punho dele e se foi apressado.

 

Havia algo que há muito tempo atormentava a alma de Christopher e que ele gostaria de compartilhar com seu melhor amigo… Um segredo que poderia dar um novo sentido a vida dele, mas Christopher tinha medo de se expor.

Em um mundo onde pessoas diferentes eram tão odiadas, ele não seria melhor que o branco ou o negro, o índio ou o gay. Seria igualmente, desprezado. E, pior, temido! E isso era o que ele menos queria. Ser humano era mais complicado do que parecia.

Alexander se deitou em um dos bancos do pátio, pensando em como as coisas seriam diferentes se sua mãe fosse normal.

“Você sempre foi e sempre será um fracassado, Alex”, a voz de sua madrasta ecoava em sua cabeça.

Ele não era um garotinho mimado que odiava a madrasta sem motivos. Não! Motivos para odiá-la, ele tinha de sobra. Ela sempre foi boazinha com Iris – por algum motivo que ele jamais compreendeu – e perversa com ele.

Iris sempre se vendeu por uma Barbie ou um doce, e nunca confirmou as histórias de um garotinho assustado… Só Brittany ficou do lado dele, mesmo que nem sempre fosse corajosa o bastante para enfrentar a própria mãe.

Ah, Brittany! Alexander sentia tanta falta dela! Será que ela também sentia falta dele?

O celular de Alexander tocou e ele encarou a tela por um tempo, em transe, antes de abrir a mensagem enviada por Christopher:

“Te espero no porão”.

Só isso? “Te espero no porão”? Alexander arqueou uma sobrancelha. Christopher era legal, mas, às vezes, agia de forma estranha.

Alexander foi até o porão, usando a luz de seu celular para iluminar o caminho.

— Chris, cadê você?

Ele ouviu um objeto tilintar no escuro.

— Aí, velho… Na boa… Não tô com saco para isso. Deixe de gracinha e apareça logo. — Disse Alexander.

A porta se fechou com uma batida.

Alexander revirou os olhos e foi até a porta e girou a maçaneta. A porta estava trancada.

— Abre essa droga? Isso não tem graça! — Alexander bateu à porta com força.

Alguém soprou no ouvido de Alexander. Assustado, ele virou-se, mas não viu ninguém.

— Quem está aí? — Alexander forçou a maçaneta, tentando sair daquele lugar.

Dois braços fortes e gelados agarraram Alexander. Ele lutou, mas percebeu que não podia medir forças com quem quer que fosse aquela pessoa porque era mais forte que ele. Facilmente, aquela coisa o imobilizou.

— Quem é você? — Alexander perguntou, mas não ouviu uma resposta. Em vez disso, sentiu duas presas afiadas perfurarem seu pescoço.

Todo o seu sangue foi drenado em menos de dois minutos e ele sentiu a vida se esvaindo de seu corpo rapidamente. Ele viu um garotinho assustado sentado no colo de uma mulher perturbada… Viu Iris o encarando com um misto de pena e desprezo… Viu Christopher sorrindo, embora parecesse triste… Viu Brittany, tão linda como sempre, o encarando, inexpressiva. E depois, ele foi jogado no chão e tudo ficou escuro.

Escuro…Escuro…

Frio…Frio…

Alexander nunca pensou que morrer fosse assim…

Sempre imaginou que iria direto para o céu ou para o inferno, mas ficou ali mesmo, onde morreu. Encarou meu corpo morto diante de si, apavorado. Aquilo estava mesmo acontecendo? Não era um pesadelo?

Quando a porta se abriu, o representante da turma passou por ela. Ele estava com uma lanterna na mão e quando viu o corpo no chão se espantou. Engraçado… Alexander sempre imaginou que Henry Dornelles ficaria feliz em o ver morto.

Logo, o porão foi tomado por curiosos e policiais.

Alexander continuou agachado no canto, ainda tentando absorver a informação, quando viu Brittany e Christopher tentando chegar até seu corpo, mas serem impedidos pelos policiais.

— Alex não pode estar morto! — Gritou Brittany.

— Não. Meu deus! Não! — Repetia Christopher.

Alexander se levantou e se aproximou deles. Tocou no ombro de Christopher.

— Estou aqui. — Ele disse, mas o amigo não o ouviu.

Tocou a face de Brittany, mas ela não sentiu. Recuou e encarou os dois.

— Estou aqui! — Gritou, mas eles não o ouviram.

Brittany abraçou Christopher.

Alexander se afastou, se ocultando nas sombras.


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O Legado da Banshee - Capítulo 1 - Amor & ódio

 

Sentada à mesa com sua família, Gisella começava a se incomodar com o elfo que não deixava de encará-la obsessivamente.

— Já acabei, então eu vou indo, mãe. — Gisella levantou-se nervosa.

— Espere seus irmãos, querida? — Disse Evin.

Ela era uma elfa branca, com olhos azuis, e cabelos loiros, à altura dos ombros.

Gisella olhou para os outros três elfos sentados a mesa: O pequeno Eldar, com suas bochechas coradas sujas de mingau de aveia, olhos grandes e azuis, e cabelos louros. Irwan com cabelos curtos e olhos azuis. E Hendrik, com cabelos louros e longos, e olhos azuis que sempre refletiam um brilho malicioso.

— Não, eu posso ir sozinha, mãe. É chato forçar os meus irmãos a cuidarem de mim o tempo todo. Eu não sou tão ingênua quanto pareço. — Gisella pegou sua mochila, voltou e deu um beijo na testa de Eldar que sorriu, meigo. Deu outro no rosto de Irwan e um no rosto de Evin, então recuou pronta a ir.

— E eu? Não ganho nenhum beijo? — Perguntou Hendrik sorrindo, malicioso.

Gisella se voltou a ele e riu, balançando a cabeça. Então, o ignorou e saiu, apressada. Hendrik ficou sério e se levantou ligeiro. Pegou sua mochila e saiu, indo atrás de Gisella. Irwan se levantou também e foi atrás de Hendrik antes que ele fizesse uma besteira.

Gisella sabia que Hendrik viria atrás dela, por isso, apressou os passos.

— Gisella! — Chamou Hendrik ao alcançá-la no portão.

— Me deixa em paz! — Gisella não se virou e correu.

Hendrik se irritou e foi atrás dela.

Gisella sabia que seria inútil correr dele, pois ele era tão veloz quanto o vento, mas, ainda assim, correu porque não queria se entregar sem uma boa luta. Como previsto, Hendrik logo a alcançou e a agarrou, virando-a para seu lado, forçando-a a encará-lo.

— Quando você vai parar de fugir de mim como se eu fosse um monstro? — Ele perguntou com raiva.

— É porque você é um. — Ela disse tentando se soltar.

— É, talvez eu seja mesmo. — Ele a beijou.

— Para com isso! — Gisella recuou e lhe deu um tapa.

— Por que se você gosta? Sei que gosta. — Falou Hendrik deslizando suas mãos por debaixo da saia dela.

— Não. Para. Por favor? Socorro? — Gritou Gisella.

— Solta ela! — Disse Irwan ao chegar na hora certa e agarrou Hendrik pelos ombros e o afastou de Gisella.

— Fica longe de mim! — Gisella recuou sem tirar os olhos de Hendrik.

— Deixa ela em paz! Você não vai conseguir nada desse jeito, só com que ela fique com medo de você. — Falou Irwan ao irmão.

— Já é alguma coisa... — Hendrik sorriu e avançou na direção de Gisella.

— Não. Hendrik? Por favor? — Pediu Irwan entrando na frente dele.

Hendrik encarou Irwan e depois Gisella, notando que ela estava visivelmente insegura. Hendrik gostou de vê-la daquele jeito, embora, no fundo, quisesse que ela sentisse qualquer coisa por ele, menos medo porque ele a amava, ainda que tivesse certeza de que nunca a perdoaria pelo que ela lhe fizera.

— Eu acompanho ela. Vai atrás da Mabel? — Disse Irwan ao irmão.

— Cuida dela, tá? — Hendrik pediu em um sussurro a Irwan.

Irwan assentiu com a cabeça e Hendrik se foi.

Irwan se aproximou de Gisella e tocou o ombro dela.

— Tudo bem, Gisella.

Gisella o abraçou forte. Os dois ficaram assim abraçados por um tempo até Gisella recuar de cabeça baixa e ambos seguirem para o colégio.

O colégio era um prédio antigo de três andares. O jardim era todo gramado, com fileiras adjacentes de arbustos. O uniforme feminino era composto por uma saia xadrez verde, à altura dos joelhos, meias brancas e longas, sapatilhas pretas, e uma blusa branca de mangas longas, com o brasão do colégio, e uma gravata preta. Gisella adorava seu uniforme, mesmo, detestando o colégio.

Os alunos a consideravam uma aberração só por ela não ser uma elfa e costumavam ser desagradáveis com ela.

Gisella seguiu apressada para a biblioteca, o seu lugar favorito no colégio, e correu para procurar livros sobre fadas. Já fazia algum tempo que estava encantada por estes seres alados e desejava atraí-los para, que, como nas lendas, eles a raptassem e, assim, a livrassem dos elfos de vez.

— Que tal esse? Um Guia Rápido Para Atrair As Fadas? — Disse uma bela elfa, com aparência angelical, olhos azuis e longos cabelos loiros. — Sei que o título é enorme, mas o livro parece interessante.

— Gaion? Obrigada. — Gisella sorriu ao ver sua melhor amiga.

Gaion era a única razão pela qual ela ainda amava os elfos. Em meio a tanta escuridão, Gaion era como um raio de sol que a iluminava, que lhe enchia de esperança.

Gisella e Gaion se sentaram em um canto, afastadas dos demais e Gisella folheou o livro, encantada com os desenhos que tinham em suas páginas. Havia descrições de vários tipos de fadas e também a forma como contatá-las.

— Elas estão muito longe? — Gisella perguntou a Gaion.

— Sim, muito. Conheço algumas passagens, mas são perigosas. Seria mais fácil chamar a atenção delas, dessa forma, elas viriam até você e tudo seria mais fácil. — Falou Gaion.

— Eu não sei se posso aguentar por muito mais tempo. — Disse Gisella.

— Vou ver o que posso fazer, mas não prometo nada. Enquanto isso, leia o livro? — Disse Gaion apertando a mão de Gisella.

O primeiro sinal soou e as duas se despediram, seguindo cada um para sua classe.

No intervalo entre as aulas, Gisella fez o que pode para se esconder de Hendrik, que a procurava como um doido. A garota foi para o jardim e se sentou atrás de uns arbustos enquanto lia o livro sobre fadas. Alguém se aproximou e a surpreendeu com um beijo no rosto. Gisella recuou, depressa, temendo que fosse Hendrik ou outro pervertido, mas para seu alívio era outra pessoa.

— Theo? — Gisella deixou o livro de lado e abraçou e beijou o elfo.

Diferente dos outros elfos, Theodred Normenor não tinha os cabelos longos e loiros, os seus eram castanho-escuros. Seus olhos eram castanho-claros, embora sua pele continuasse sendo branca, mas não pálida.

— Eu senti tanta saudade! — Gisella disse.

Theo e ela namoravam ainda que a "família" dela fosse contra esse relacionamento.

— Eu senti mais. — Disse Theo apanhando e beijando as mãos dela.

— Então, por que você não veio me ver antes? — Perguntou Gisella triste.

— Você sabe que é difícil, que Hendrik está sempre por perto, te vigiando como um maldito cão de guarda. — Falou Theo.

— Por que você não foge comigo? Assim, ninguém nos impediria de sermos felizes juntos. — Falou Gisella.

Theo a beijou suavemente, sendo correspondido. Hendrik veio de repente e flagrou os dois se beijando. Sentiu um misto de dor e ódio.

— Não. Fica longe dela! — Hendrik disse afastando Theodred de Gisella e o acertando com um soco a seguir.

— Hendrik? Não! — Disse Gisella desesperada.

Hendrik a ignorou e continuou batendo em Theodred que revidava com a mesma fúria. Gisella gritou por ajuda e logo vieram alguns alunos e apartaram a briga.

— Fica longe dela ou eu juro que mato você! — Hendrik ameaçou Theodred.

— Você é quem deveria ficar longe dela já que ela não o ama! — Vociferou Theodred.

— E o que você acha que sabe sobre isso? — Hendrik sorriu, malicioso. — Nós moramos juntos. Por que acha que não durmo com ela? Não acredite em tudo o que ela te fala. Estamos sempre brigando, mas ela não resiste a mim.

Hendrik se voltou a Gisella esperando que ela negasse, mas ela não disse nada. Estava com medo de Hendrik. Sabia que quando voltassem pra casa, ele estaria muito furioso com ela.

— Isso é mentira! Gisella me ama e você não suporta que ela tenha te deixado por mim. — Falou Theodred, sorrindo, convencido.

— Seu desgraçado! — Disse Hendrik com ódio e tentou se soltar dos dois elfos que o seguravam, mas não conseguiu.

— Theo? É melhor você ir, agora. Por favor? — Pediu Gisella.

Os alunos soltaram Theo e ele se aproximou de Gisella. Hendrik quis se soltar e impedir que Theo chegasse perto de Gisella, mas não conseguiu.

— Eu juro que volto, minha doce Gisella. — Theodred se despediu de Gisella com um beijo antes de ir.

Só então os outros alunos soltaram Hendrik. Este se aproximou de Gisella e a agarrou com força pelos ombros. Gisella pode ver um misto de dor e ódio no olhar dele – era assim que ela conseguia enxergar a aura dos elementais, através de seus olhos, tudo o que eles sentissem sempre refletiria em seus olhos, só alguns poucos elementais eram capazes de esconder suas auras -.

— Por que você faz isso comigo? Por que me provoca assim? — Ele inquiriu.

— Porque eu não amo você, porque você nunca foi homem o bastante pra mim. Quando vai entender isso? — Disse Gisella se esforçando para demonstrar apenas ódio quando, na realidade, se sentia muito atraída por ele. Era verdade que ela não resistia a ele e por isso era cruel para afastá-lo porque sentia que os dois não deveriam ficar juntos.

— Isso é mentira. Eu sinto que não está sendo sincera, que me deseja como eu a desejo. — Ele disse e a beijou. Os lábios dele eram doces como mel e viciantes, ao menos para Gisella. Uma vez que o beijava, era difícil pensar com clareza. Ela não tinha certeza se aquilo era um tipo de feitiço ou controle mental, só sabia que não queria soltá-lo mais, que ninguém a amaria como ele.

Após um longo beijo, Hendrik recuou e sorriu triunfante. Mais uma vez, mostrara a Gisella que ela pertencia a ele.

Extasiada, Gisella estava a ponto de se aproximar de Hendrik, desejando que o mesmo a beijasse outra vez quando seus olhos encontraram os de Gaion que a encarava desapontada. Sempre que Gaion a olhava assim tão triste, Gisella só tinha vontade de morrer porque quando um ser tão belo que vivia sorrindo, se entristecia, a coisa era séria. Isso foi o bastante para "despertar" Gisella, fazendo-a reagir com raiva.

— Oh, como você é inocente... — Gisella riu, maldosa. Sabia que magoaria ele com aquelas palavras, mas precisava ser forte. Aquilo não era amor, era uma guerra. — Eu apenas uso você porque é divertido ver seu sorriso irônico se desfazer. Você não faz ideia do quanto é delicioso vê-lo sofrer, Hendrik.

Hendrik recuou, chateado, tentando transparecer mais ódio que dor, mas falhando miseravelmente.

— Eu apenas SUPORTO você porque não tenho escolha, caso contrário, nada me faria mais feliz que não olhar para sua maldita cara! Eu te odeio! — Ela disse antes de sair correndo.


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Gisella é uma jovem doce que ama os livros e tem muita curiosidade sobre os seres mágicos. Foi essa curiosidade que a levou a invocar os elfos e desejar viver entre eles. Ela só não esperava que um deles fosse ouvir e atender seu pedido.
Não será fácil para ela se adaptar ao reino de Bellanandi, especialmente quando os elfos não forem amistosos.

"Essa terra de encantos é mais sombria do que eu esperava". (Gisela)

Elo Mortal - Capítulo 1 - A Briga

 

Glaretown, Maine (E.U.A) 1997

Parada em frente ao espelho, Neelam encarava a si mesma, feliz por seu uniforme novo ter lhe servido. Ela sofrera nas férias para perder peso e agora estava convencida de que, diferente de como fora em seu colégio anterior, ela não chamaria a atenção por causa de sua aparência.
— Já está pronta querida? Vai se atrasar. — Disse Mikaela ao bater à porta do quarto de sua filha.
— Sim. Mamãe, desço em um minuto. — Respondeu Neelam.
Ao chegar em Harmony High Scool, Neelam foi até a diretoria, pedir ajuda para encontrar sua sala, e a diretora a mandou ir até o Grêmio falar com Killian, o presidente do Grêmio.
 Neelam entrou timidamente no grêmio e se aproximou de um rapaz loiro que estava de costas para ela, mexendo em alguns papéis.
— Com licença… — Neelam disse.
— Sim, em que posso ajudá-la? — Killian disse se virando e a encarando com seus penetrantes olhos cor de âmbar.
— Eu me chamo Neelam Ferraz e estou aqui porque a diretora pediu para que viesse falar com você.
— Prazer, sou Killian Werner, o presidente do Grêmio. — Apresentou-se ele, estendendo a mão para um aperto formal. — Em que exatamente posso ajudá-la?
— É sobre uns papéis. Eu acho. Não entendi bem. — Disse Neelam apertando a mão dele.
— Sua ficha de inscrição? — Tentou adivinhar Killian.
— Isso mesmo. — Disse Neelam.
Killian deu uma olhada na pasta que ela lhe entregou e lhe explicou que ainda faltavam alguns papéis e pediu para que ela os providenciasse o quanto antes. Em seguida, deu-lhe instruções de como fazer isso.
— Obrigada. Trarei o que me pediu. — Disse Neelam antes de deixar a sala.
Caminhando apressada, ela tomou o corredor à sua esquerda e sem querer, esbarrou em um garoto magricelo que usava óculos. Com o impacto da queda, o garoto deixou seus livros caírem no chão.
— Oh, me desculpe? Eu sinto muito. — Disse Neelam nervosa e abaixou-se e ajudou o garoto a recolher seus livros.
— Não. A culpa foi minha. Não sua. Eu estava distraído. — Falou o garoto mais nervoso ainda enquanto recolhia seus livros.
— Mil desculpas. — Disse Neelam após ajudá-lo a recolher seus livros do chão.
— Tudo bem. Não foi sua culpa. — Disse ele, ajeitando seus óculos.
— Prazer. Eu me chamo Neelam Ferraz, mas pode me chamar só de Neelam.
— Sou Kendall Maldonado, mas pode me chamar de Ken. — Disse ele sem jeito. — E então, você também é nova aqui?
— Sim. A propósito, você completou sua ficha de inscrição? — Disse Neelam.
— Sim. — Respondeu Kendall. — Precisa de ajuda com a sua?
— Sim, eu sou nova aqui e ainda não sei nem onde fica o banheiro.  — Disse Neelam.
— Seria um prazer ajudá-la. — Falou Kendall.
 Dessa forma, ele a acompanhou e a ajudou a completar sua ficha de inscrição. Os dois foram até o grêmio. Neelam entrou na sala e Kendall a esperou do lado de fora. Neelam entregou os papéis a Killian. Ele os conferiu e pediu a ela que entregasse os mesmos à diretora. Após fazer isso, Neelam e Kendall foram para a sala de aula. 
As duas primeiras aulas de História foram bem tranquilas. No entanto, no terceiro tempo, na aula de Geografia, um ruivo, vestido como um roqueiro entrou na sala e passou por Neelam, a encarando de uma forma que ela não pode discernir se era malícia ou deboche ou os dois. Ele sentou-se atrás dela.
— Pode me emprestar um marcador? — O ruivo sussurrou em seu ouvido.
Neelam abriu seu estojo e apanhou o marcador e a entregou ao ruivo. Ele sorriu malicioso e piscou para ela. Neelam permaneceu séria e se virou.
Cinco minutos depois, quando o professor se distraiu, o ruivo sussurrou no ouvido dela: — Obrigado.
Ela assustou-se!
— Ops… — Disse o ruivo ao derrubar de propósito o marcador na gola do suéter dela.
Neelam sentiu o marcador escorregar por seu busto e se virou, irritada, enfiando a mão em seu suéter e o pegando.
— Qual o seu nome? Eu sou o Duke Benson. — Ele sussurrou outra vez no ouvido dela.
— Não te interessa. — Neelam respondeu.
Duke recuou e não voltou a incomodá-la.
Na hora do almoço, Neelam e Kendall tiveram uma prévia de como seria o restante do ano letivo para ambos, quando foram ignorados pelos outros estudantes, que prefiram se apertar nas mesas próximas a se juntarem a eles.
— Que bom que temos privacidade. — Kendall sorriu amargo.
A duas mesas de distância da deles, estava um grupo de amigos que não tinha nada melhor a fazer a não ser tentar reunir alguma informação e adivinhar quem eles eram.
— Será que são irmãos? — Blair Oneil disse. Ela era baixa e magra. Seu cabelo era tingido em um tom violeta, e seu cumprimento era acima dos ombros. Seus olhos eram de um azul-cinzento. Ela tinha um ar doce que combinava com sua personalidade introvertida.
— Não. Eles não parecem irmãos… Nem de longe. — Mattew Mckinney disse. Ele era irmão gêmeo de Anderson (Dru) Bertolini, mas ambos não possuíam o mesmo sobrenome porque foram adotados por famílias diferentes. Os irmãos eram idênticos fisicamente, mas tinham personalidades opostas.
— Talvez, sejam namorados… — Brielle Wilkins disse. Ela era naturalmente ruiva, com olhos azuis, e costumava deixar seus cabelos presos em duas tranças.
— Nossa! Dá para sentir a paixão daqui. — Mattew disse, sarcástico.
— Então… Não que eu seja uma fofoqueira, mas… — Willow McDaniel sorriu com a segurança que somente alguém muito bem informado demonstraria. — Eles foram transferidos de colégios diferentes. Ela veio de outra cidade, na verdade. — Willow passou a mão por seu cabelo louro platinado e olhou rapidamente para a mesa de Neelam e Kendall.
— Foi a Savannah que te contou, não foi? — Mattew disse, desconfiado.
— Eu nunca revelo minhas fontes. — Willow se inclinou para frente como se fosse contar um segredo a seguir. — Por acaso, um passarinho me contou que ela chamou a atenção do Duke.
— Coitada! — Mattew riu alto. — O Duke é terrível! Se ela for esperta, ficará bem longe dele.
— Oh, oh… — Blair disse, nervosa.
Mattew seguiu o olhar dela, e Willow se virou, deparando-se com a chefe das líderes de torcida que estava parada atrás de Willow, ouvindo o que ela dizia.
— Gillian? Não quer se sentar? — Mattew disse, sorrindo com raiva. — Você não tem nada melhor para fazer que ficar ouvindo a conversa alheia?
Gillian Werner o ignorou e se voltou a Willow, lhe perguntando:
— Quem é essa garota que estão falando?
— Que garota? — Willow se fez de boba.
— Neelam! Ela está ali! — Blair apontou a direção.
— Quieta! Traidora! — Mattew disse a Blair.
— Muito obrigada, Blair. — Gillian sorriu, satisfeita e se afastou.
— Você ficou louca, Blair? Por que fez isso? — Brielle disse sem compreender.
— Eu não quero mais a Gillian pegando no meu pé. Estou cansada de ser o saco de pancadas dela. — Blair disse, abaixando a cabeça, chateada.
— Só que você não será melhor que ela se permitir que ela faça com os outros o que faz com você. — Mattew disse.

                              † † †

Gillian se aproximou da mesa de Neelam e ficou parada, a encarando. Neelam tentou ignorá-la, mas foi impossível.
— Você quer alguma coisa? 
— Não. — Gillian sorriu. — Na verdade, sim. Estou tentando descobrir porque você chamou a atenção do MEU namorado!
Neelam encarou Kendall, vermelha.
— Por que não me disse que tinha uma namorada?
— O quê? Não. Ela não é minha namorada! — Kendall disse.
— Não seja ridícula! É do Duke Benson que estou falando! — Gillian bateu na mesa.
— Eu não sei quem ele é nem me interessa saber. Você está me confundindo, garota. — Neelam disse.
— Você é Neelam, certo? — Gillian disse.
— Já disse que não conheço esse cara. Me deixe em paz! — Neelam disse.
— Fique longe do meu namorado. Vadia! — Gillian esbofetou a face de Neelam.
Neelam notou que os outros à sua volta pararam para prestarem atenção ao que acontecia e, além da vergonha, ela sentiu raiva. Sem pensar se levaria ou não a pior, enfrentando aquela garota, ela se levantou e devolveu o tapa que recebeu. Gillian se enfureceu e a agarrou pelos cabelos. Os alunos deixaram suas mesas e se amontoaram ao redor das duas, ávidos pelo desfecho daquela briga.
Kendall tentou apartar a briga, mas os outros o detiveram, segurando-o pelos braços.
Killian abriu espaço entre a multidão a cotoveladas e conseguiu chegar até onde as garotas estavam. Ele puxou Gillian, tirando-a de cima de Neelam, e quando Neelam se levantou do chão e tentou avançar em Gillian, Killian se colocou entre as duas e disse com autoridade:
— Parem!
— Foi ela que começou! — Neelam disse.
— Não me interessa quem começou. Vamos ao Grêmio, agora! — Killian agarrou Gillian pelo braço, a arrastando.
Gillian protestou, mas não adiantou. Neelam abaixou a cabeça e seguiu Killian.
— Estou desapontado com as duas. Especialmente com você, Gill! — Disse Killian encostando a porta do grêmio para que não fosse interrompido. — Vocês tem noção do papel ao qual se prestaram hoje? O que fizeram foi ridículo!
— Sinto muito. — Disse Neelam sem coragem de encará-lo.
— Como chegaram a isso? — Perguntou Killian.
— Foi ela quem começou, Killian! — Disse Gillian.
— Mentirosa! Você veio até a minha mesa e me acusou de estar envolvida com o seu namorado, mas eu disse que NÃO tenho a mínima ideia de quem seja ele! — Disse Neelam.
— Vadia! Mentirosa! — Disse Gillian. — Sei que você foi se oferecer a ele.
— Parem com isso! — Falou Killian dando um murro na mesa.
As garotas se calaram.
— Vá para a sala, Gill! Conversamos depois! — Falou Killian.
Gillian deixou a sala resmungando e bateu a porta ao passar. Killian encarou Neelam por algum tempo, esperando que ela se defendesse, mas ela não disse uma só palavra.
— Vou ter de comunicar a diretora o que houve e, além da detenção, talvez, você seja suspensa. A política desse colégio é bem rígida e não tolera agressão física. — Falou Killian.
— Eu só me defendi. O que eu deveria ter feito? Apanhado calada? — Neelam disse.
Killian suspirou, cansado, e pensou antes de dizer:
— Droga. Não. Eu sei que a minha irmã é terrível.
— Ela é sua irmã? Sinto muito por você. — Neelam disse.
— Olhe? Infelizmente, preciso comunicar a diretora sobre o que houve, mas… Eu poderia usar a minha influência e convencer a diretora de que dessa vez a culpa é da Gillian, se você me fizesse um favor. — Killian disse.
— Mas a culpa é realmente dela… — Neelam disse.
Killian balançou a cabeça e disse:
— Você é novata, então, não entende… Quando a diretora perguntar aos outros alunos o que houve, todos dirão que foi você e não a Gillian quem começou porque a Gill é o demônio e ninguém quer irritá-la.
— Pelo visto, nem você. Então, por que? — Neelam disse.
— Tem outro demônio pior que ela e se você pudesse enfrentá-lo por mim, seria ótimo. — Killian disse.
— E quem seria esse demônio? — Neelam inquiriu.

— Duke Benson. — Killian respondeu.


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Se apaixonar nem sempre é uma coisa boa, ainda mais para Neelam que está tentando seguir em frente após um relacionamento ruim, mas um misterioso admirador passa a persegui-la, exigindo que ela não se aproxime de ninguém. Neelam comete um erro ao não fazer o que ele manda e alguém se machuca por isso. Presa em um jogo doentio, ela precisa descobrir quem é o seu admirador antes que surja a próxima vítima.


A Guerreira prometida - Capítulo 1

 

Svartalfheim -

Brynan Draervy era um elfo sombrio, com quase dois metros de altura, porte atlético, olhos azuis, sorriso malicioso, cabelo longo e loiro, com barba. Ele era ao mesmo tempo, assustador e atraente. Os homens sentiam medo dele e as mulheres costumavam cair aos seus pés, rendidas ao seu encanto. Encanto esse que os homens não entendiam.

Brynan acabara de ser aceito na guarda real e fora até uma taberna para comemorar com os outros soldados. Entre eles estava a princesa Morrigan Falynn.

- Me diga, o que uma princesinha tão delicada faz entre tantos homens? Por acaso, ela confia que nenhum deles tocaria em um fio de seu cabelo só porquê ela é uma princesa? - Brynan disse a dois soldados que estavam ao seu lado.

- Morrigan é uma grande guerreira. Qualquer idiota aqui sabe disso. - Klodian disse.

- Uma mulher? - Brynan riu. - Eu só acredito vendo.

- Você pode desafia-la, mas eu não recomendaria isso se quiser deitar ao lado dela algum dia. - Dhimiter disse.

- O que está dizendo? Algum de vocês, já? - Brynan alternou o olhar entre Klodian e Dhimiter.

- É claro. Acho que todos nós. - Dhimiter disse.

Brynan olhou para a princesa e a viu se sentando no colo de um soldado e o beijando nos lábios.

- Oh, entendi. - Brynan sorriu malicioso. - Mal posso esperar para conhecê-la pessoalmente. Tenho certeza de que ela gostará de mim.

De volta ao castelo, o comandante pediu a Brynan que fosse atrás de Arjan e Klodian nas fontes termais do castelo. Brynan achou estranho que dois soldados tivessem permissão para desfrutar das fontes, mas achou que talvez eles estivessem fazendo companhia ao rei. Ele foi até lá e se surpreendeu ao ver os seus companheiros com a princesa. Klodian estava beijando a princesa enquanto Arjan bebia e observava com um sorriso malicioso. Brynan parou sem saber o que fazer, não querendo interromper a princesa, mas, também, não querendo desobedecer seu comandante.
- Ei, Brynan? Quer se juntar a nós? - Arjan disse ao notar a presença dele.
A princesa recuou e encarou Brynan.
- Quem é você? - Ela perguntou, curiosa.
- Brynan, vossa alteza. Sou um de seus soldados. - Ele se curvou.
- Não acredito. Eu conheço todos os meus soldados. - Ela o observou da cabeça aos pés e sorriu.
- Eu sou novo. - Ele sorriu, um pouco nervoso.
- Nem tão novo assim. - A princesa riu. - Mas serve para o que tenho em mente.
- Quis dizer na guarda, alteza. Perdoe-me se me expressei errado.
- E como posso te ajudar?
Brynan olhou rapidamente para o corpo dela e desviou o olhar, abaixando a cabeça, certo de que ela o estava testando.
- Meu comandante está chamando os soldados para uma reunião de emergência.
- Talvez, esteja na hora de ter um novo comandante, um que não tire os meus soldados de mim. - A princesa disse com raiva e se voltou a Klodian e Arjan. - Vão. Continuaremos a brincar depois.
- Sim, princesa. - Arjan disse, saindo da fonte.
- Até mais tarde, princesa. - Klodian apanhou e beijou a mão de Morrigan antes de sair da fonte.
Brynan sabia que deveria se virar e não encarar a princesa, mas não conseguiu se conter e ficou encarando-a, sem esconder o quanto estava encantado por ela. Morrigan o encarou de volta, séria.
Depois que Klodian e Arjan se vestiram, eles seguiram Brynan, deixando as fontes termais.
- Pois é, vocês não brincaram. - Brynan disse.
- Somos os preferidos dela. - Klodian sorriu, convencido.
- Por enquanto... - Brynan sussurrou.
- Hein? O que disse? - Arjan perguntou.
- Nada. Vamos ver o que o comandante quer. - Brynan disse.
Os reinos Álfheim e Bellanandi estavam lutando por parte de Nidavellir, o reino dos anões e o rei de Svartalfheim se enfureceu, afinal, ele estava de olho naquelas terras há tempos. Por isso, ele reuniu seus soldados e partiu para enfrentar os dois reinos. Bellanandi ofereceu uma trégua a Svartalfheim e os dois reinos se uniram para derrotar Álfheim. Porém, os anões não ficaram parados e reuniram um exército de trolls e dragões. Parte do exército de Álfheim foi morta graças a um ataque dos dragões. Morrigan não conseguiu se mover quando viu o dragão acima dela, mas Brynan a pegou pelo braço e a puxou, tirando-a do campo de batalha. Os dois retornaram para o acampamento. Também haviam perdido muitos soldados. Morrigan quis retornar ao campo de batalha para cremar os corpos dos soldados mortos, para assim, eles descansarem em paz, mas seu pai a proibiu. A princesa Morrigan desobedeceu a ordem de seu pai e chamou Klodian e Arjan para irem com ela queimar os corpos dos soldados de Svartalfheim, mortos em combate.
- Essa é a única forma de eles descansarem em paz. - Morrigan disse.
- Ei?
Os três se viraram e deram de cara com Brynan.
- Vocês estão pensando em desobedecer o rei?
- Nem tente nos impedir. - Morrigan disse.
- Não. Eu não faria isso. - Brynan disse. - Também acho que as almas dos soldados merecem seguir para o outro plano.
- Então, venha conosco. - Morrigan disse.
Brynan assentiu.
Eles foram até o lugar do último combate e se aproximaram da pilha de corpos que os anões deixaram para que eles pegassem e enterrassem seus mortos. Apesar de estarem em guerra, os anões não eram os vilões ali, só estavam defendendo sua terra.
Klodian e Arjan jogaram álcool nos corpos. Morrigan se aproximou dos mortos e estendeu as mãos, fazendo uma oração, pedindo a Odin que levasse as almas de seus soldados. Ela estava prestes a recuar quando sentiu uma mão agarrar seu pé. Ela olhou para baixo e viu uma figura encapuzada. Se agachou e puxou seu capuz, revelando uma cabeleira branca.
- Me ajude - O pobre elfo pediu.
- Por favor, parem - Morrigan disse quando Klodian estava prestes a incendiar os mortos. - Me ajudem aqui? Esse homem está vivo.
Brynan e Arjan tiraram o elfo da pilha de cadáveres.
- Qual é o seu nome? - Morrigan perguntou.
- Não sei. - Ele respondeu. Tudo o que se lembrava era de uma mulher albina chorando.
- Ele está com a armadura do nosso reino, mas não me lembro dele. - Klodian disse.
- Talvez seja um soldado novo. - Brynan disse.
- Vamos levá-lo. - Morrigan disse.
Klodian e Arjan levaram o homem sem memória até o acampamento e o acomodaram em uma tenda, retirando sua armadura e suas botas. O médico foi chamado e após examiná-lo, disse que ele foi envenenado por uma planta que em pequena quantidade podia ser alucinógena e em grande quantidade podia levar a perda da memória e até a morte. O médico deu uma dose de antídoto para seu paciente, dizendo que ele ficaria bem.
- Isso fará com que ele se lembre de alguma coisa? - Morrigan perguntou ao médico.
- Infelizmente, não, mas evitará uma morte agonizante. - Respondeu o médico.
- Arjan, chame o meu pai e fale sobre o homem que achamos. Ele precisa saber disso. - Morrigan disse e saiu da tenda, sendo seguida por Brynan.
- Sim, princesa. - Arjan foi imediatamente atrás do rei.
- Malditos anões! Como conseguiram envenenar um dos nossos? Em qual momento? - Morrigan disse com raiva.
- Eu não acho que isso seja obra dos anões, princesa...
Morrigan se virou e encarou Brynan, esperando que ele dissesse o que pensava.
- Os Ljósalfar... Pode ter sido obra deles. Eles nos odeiam mais que os anões.
- De qualquer forma, está estranho. O que um dos nossos fazia bebendo com o inimigo?
- Talvez, esse ataque tenha vindo daqui. Teria de perguntar aos outros soldados se alguém conhece o albino... Quem sabe, ele não irritou alguém? Não seria a primeira vez que um homem mata outro por causa de dinheiro ou de uma mulher. Vossa alteza tem certeza de que não o conhecia?
- Os meus soldados não seriam estúpidos o bastante para matarem uns aos outros por mim quando sabem bem que eu não toleraria esse tipo de comportamento.
- Um homem apaixonado não costuma pensar direito...
- Ele tem uma aparência difícil demais de se esquecer, se eu tivesse ficado com ele, com certeza, me lembraria.
- Talvez os outros temessem que ele se tornasse o novo preferido por causa de sua aparência...
- Está tentando me deixar maluca, Brynan?
- Oh, você se lembra do meu nome! - Ele parecia surpreso.
- É claro que sim. Não esqueço um rosto bonito.
Brynan deixou escapar um sorriso malicioso.
- Mas não se anime muito, soldado. - Morrigan sorriu e deu dois tapinhas no ombro dele. - Entre te achar fofinho e ir para a sua tenda há uma grande diferença.
- Fofinho? Me acha... Fofinho? Puxa! Você sabe elogiar um soldado. - Ele sorriu sem graça e virou o rosto, abaixando a cabeça.
- Me desculpe? Eu estou nervosa. Só quero as cabeças dos meus inimigos.
- Vossa alteza os terá. Eu garanto. Todos daremos o nosso melhor para vencermos essa batalha.
- Quando não tiver ninguém por perto pode me chamar só de Morrigan, já que seremos amigos.
- Como quiser.
Morrigan sorriu com ar travesso.
- Só por curiosidade, qual é a sua tenda? Caso eu precise de alguma coisa.
- É a última. - Ele apontou a direção, se contendo para não sorrir.
- Hmmm.... Você é casado ou tem algum compromisso?
- Não. Nenhum.
- Não está mentindo? Se estiver, eu descobrirei.
- Não. Eu nunca quis me prender a ninguém.
- Nem eu, mas, infelizmente, um dia, terei de me casar. Tudo seria mais fácil se eu fosse um homem.
Brynan riu.
- Quem disse que a vida é fácil para os homens? Lutar em guerras, ser chefe de família...
- Ser chefe de família te assusta? - Morrigan riu e balançou a cabeça.
- Mais do que qualquer guerra.
- A mim também assusta começar uma família.
Os dois notaram que o rei se aproximava e se afastaram rapidamente. Brynan se curvou diante do rei que fez um sinal para que ele se endireitasse. Brynan obedeceu.
- Por que me desobedeceu, Morrigan? - O rei perguntou, chateado. Ele sentia muito orgulho de sua filha, mas como todo pai, se aborrecia quando ela não o obedecia.
- Me perdoe, pai. Pode me castigar se quiser, mas eu precisava libertar as almas daqueles pobres soldados.
- Se me desobedecer outra vez, a mando para a casa.
- Sim, pai. - Morrigan abaixou a cabeça, envergonhada.
O rei alternou o olhar entre Morrigan e Brynan, desconfiado, mas não disse nada, entrando na tenda para ver o albino.
Morrigan soltou um suspiro.
- O meu pai também era bravo.
- Acho que todos os pais são. Nos vemos. - Morrigan foi para a sua tenda e se trocou, indo se deitar, pois estava cansada e com frio. Mais tarde, ela foi acordada por uma criada que trouxe o seu jantar.
Após comer, ela foi até a tenda do elfo albino e o encontrou sentado na cama, encarando um pingente em forma de um triângulo invertido que trazia em um cordão de prata no pescoço. Ele parecia aborrecido.
- Com licença...
O homem olhou para ela e se levantou rapidamente, se curvando.
- Alteza...
- Por favor, volte para a cama. Não acho que esteja em condições de ficar em pé. O veneno que te deram é muito forte. Você deve descansar. Deve estar confuso.
O elfo assentiu e voltou para a cama.
Aquela era a tenda de um soldado que morrera em combate. Yule. Morrigan se lembrava do sorriso doce e do jeito ingênuo dele. Ela quase se apaixonara por ele, se não o fizera foi só porque ele encontrou uma boa moça e se casou com ela, tendo um filho. Agora, Morrigan sentia pena da pobre mulher que receberia a triste notícia de que seu marido falecera. Era por isso que ela não queria se casar e ter filhos, porque tinha medo de os deixar órfãos.
Morrigan puxou uma cadeira e se sentou, próximo a cama.
- Te deram um nome pelo menos?
- Sim, Eldar.
- Eldar... Combina com você. Realmente não se lembra de nada?
- Um rosto feminino... Uma mulher com o cabelo igual ao meu. Está chorando, mas eu não sei porquê e me angústia não saber. Talvez, seja minha irmã.
- Um amigo vai perguntar aos outros soldados se eles se lembram de você. Recrutamos alguns cidadãos comuns para a batalha, então, talvez, você seja algum nobre. Quero dizer, você não se parece com um camponês. Na verdade, nem com um elfo sombrio.
- Eu sinto que faz algo muito ruim. Talvez eu seja perigoso.
- Não se atormente assim. Todos nós fizemos coisas horríveis nessa guerra, mas isso não nos torna maus, apenas guerreiros que fazem o que tem de fazer e ponto. Se você tem uma família, prometo que vou encontrá-la e devolvê-lo a ela.
- Muito obrigado. É horrível não se lembrar de nada.
Morrigan sorriu para transmitir um pouco de calma e segurança a ele.

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"Pegar e nunca se apegar" sempre foi o lema da princesa Morrigan até seu pai se cansar de sua rebeldia e exigir que ela se case e lhe dê um neto. Morrigan escolhe o elfo Brynan, um de seus soldados e pretendente, fazendo um trato com ele. Porém, não muito contente com o trato, Brynan fará de tudo para conquistar o coração de pedra da princesa. Ela não facilitará para ele. Nesse perigoso e envolvente jogo de sedução, pode-se ganhar ou perder tudo.

 

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