Como lidei com minha opção sexual


Quando eu era criança, me sentia mais à vontade brincando com os meninos que com as meninas. As garotas, na mina época, eram chatas e esnobes - não muito diferentes de Ambre, Li e Charlotte (do jogo AD) -. Já, os meninos, por sua vez, eram descontraídos, bem humorados e não te julgavam por você não usar a bolsa da moda ou não ser e se vestir de um jeito. Com eles, eu podia ser eu mesma e me sentia como se eu fosse um deles. Eu simplesmente cansei de tentar ser como as outras garotas e ser esnobada por elas. Minha infância não foi uma das melhores, ainda mais na escola. Sofri muito na escola quando eu era criança. 
    Mesmo sendo esnobada pelas outras garotas, eu nunca deixei de admirá-las, de achá-las belas e inteligentes. E, com o tempo, eu acabei arranjando minhas próprias amigas ou elas me arranjaram. Eu me tornei tipo a Violette (também de AD), retraída, introvertida. Como eu me mudava muito de colégio, eu nem me esforçava para fazer novos amigos. E sempre me sentava no fundo da sala. Não falava com ninguém e ninguém falava comigo. Sempre assim. Mas isso mudou quando eu fui para o colégio Delfina. Lá, os alunos são muito maluquinhos. kkk. - Saudades -. Algumas garotas da sala me acharam esquisita demais e até esnobe e decidiram se aproximar de mim para descobrirem qual era a minha. No começo, eu levei um susto! Imagine só, uma garota tímida que sempre fora esnobada pelas outras garotas em todos os colégios, de repente se ver cercada por garotas com olhares curiosos.
   Eu nem sabia o que pensar daquelas garotas: Jéssica estava sempre falando alto e grosso. Batendo portas e esmurrando mesas. Eu pensava que ela era uma bad girl, encrenqueira e provavelmente lésbica (só uma lésbica olharia uma revista pornô e diria que aquelas mulheres nuas são gostosas).
   Francineide era e é tão feia que assustava até o diabo. Fora que ela era atiradinha como a Debrah (eu sei que tô viciada em AD, não precisa dizer nada!) e mentirosa pra caralho (não repitam isso, crianças senão seus pais vão proibir vocês de lerem o que eu escrevo).
Joice era bem humorada, mas bastante reservada. Fazia o tipo estudiosa e calada.
Leticia era quietinha também, mas bem levadinha e brincalhona.
Ana Carla sempre foi doida de pedra (mas no bom sentido, porque ela é uma garota muito legal e tem um grande coração).
     
     Levou cerca de dois meses até que elas conseguissem me "puxar" para o grupo delas. E não foi nada fácil, mas elas não desistiram de mim. Puxavam conversa, pediam lápis e borracha emprestados - mesmo não precisando - e insistiam para que eu as acompanhasse durante o recreio.
   Conforme nos aproximamos, eu percebi o quanto as aparências enganam e que quem vê cara não vê coração. Jéssica, na verdade, era um docinho. Ela só fingia ser uma garota má para que os outros a respeitassem. E ela gostava muito de mim. Eu também gostava muito dela, embora, me sentisse confusa e não entendesse o que realmente sentíamos uma pela outra. Ela me tratava de uma forma especial e no mínimo suspeita para uma simples melhor amiga. Teve uma vez em que ela me mandou uma carta e várias folhas com poemas românticos. Embora tudo aquilo fosse muito fofo, eu minhas outras amigas suspeitamos que Jéssica estava apaixonada por mim e que aquilo era uma declaração por parte dela. 
   Eu me senti muito estranha. Não via as lésbicas e os gays como eu os vejo hoje. Havia um tabu muito grande naquela época e ser gay era um GRANDE pecado. Eu era católica - ou quase - e o grande sonho da minha vida era ser freira. 
   Guardei um poema, em especial de Jéssica e entreguei a carta e os outros poemas à Francineide. Ela insistiu para que eu os desse a ela e como ela colecionava minhas fics sobre elfos e minhas composições, eu achei que ela seria a pessoa certa para guardar aquele segredo. Apesar de anos depois, nos tornamos inimigas, ela manteve isso oculto.
   Jéssica me perguntou sobre o que eu achara da carta e dos poemas. Eu disse que gostara, mas não demonstrei a ela que percebera sua real intenção por trás de tudo aquilo. Ela pareceu chateada, mas ficou por isso mesmo. O fato é que nunca mais a vi da mesma forma e sempre sentia algo estranho quando ela estava muito próxima a mim ou me abraçava. Eu temia que ela se declarasse.
      Quando Jéssica disse que ia se mudar para outra cidade, eu fiquei triste. Mas, no fundo, senti um grande alívio. 
  No dia em que ela partiu, todas as minhas amigas saíram do colégio e foram se despedir dela - ela morava na esquina -. Todas menos eu. Eu queria me despedir dela mais que tudo no mundo, mas não consegui. Tive medo de que ela me beijasse e finalmente se declarasse - Jéssica era tão maluquinha que seria bem capaz de fazer isso -. Anos mais tarde, eu arrependi de ter sido tão burra. Nós duas poderíamos ter vivido algo lindo, secreto e proibido. Mas eu fui covarde e preconceituosa!
    
Tila e Kristy em A Shot At Love
  Quando voltei para Campo Grande (o colégio Delfina fica em Nova Alvorada), descobri um mundo novo. Passei a ver a MTV e assisti um programa chamado "Beijando o sapo". Nesse programa, eu vi duas mulheres lindas se beijando. Eu juro por Deus, que achei aquilo a coisa mais linda do mundo. Me senti culpada por ter aquele pensamento e rezei muito para que Deus afastasse aquilo da minha cabeça e do meu coração. 
    Tempos depois, estreou um programa chamado "A shot at love", com Tila Tequila. Nesse programa, eu entendi o que estava acontecendo comigo e que há anos eu vinha negando. Eu percebi que sempre gostei de garotas de uma forma diferente e especial. Mas tive muito medo de contar aquilo à minha família.
   Mas vendo a segurança que a Tila tinha e a forma como ela sempre aconselhava os outros a se abrirem para a sua família e contarem o que sentiam, eu decidi ter uma conversa séria com minha mãe. Eu preferi não usar a palavra "lésbica" por ser muito forte para algumas pessoas, e usei a palavra "bissexual".
   Depois de ouvir tudo o que eu disse, minha mãe ficou pensativa.
Tive medo que ela brigasse comigo ou até mesmo me batesse. Eu só tinha 14 anos e foi muito difícil para mim, falar isso para ela. Mas ela entendeu e aceitou isso muito bem. Bem até demais. Minha mãe sempre foi muito apegada a mim e aos meus irmãos e sempre morreu de medo que nós nos casássemos e a abandonássemos. Por isso, ela ficou mais tranquila ao saber que pelo menos eu não iria embora. Claro, com essa história de casamento gay, ela tem estado encucada. Mas aí, é outra história. haha.
   Antes de me assumir, eu sentia uma sensação desconfortável sempre que olhava para as lésbicas. Eu reprimia o que eu sabia que no fundo eu era. Mas hoje isso mudou. Sempre que eu vejo lésbicas pelas ruas, caminhando de mãos dadas e trocando beijos, eu sorrio. Orgulhosa e, às vezes, até me emociono. Eu sou romântica. XD.
   Claro que, ser bissexual pode ser muito confuso às vezes. E tem dias que eu amo os garotos e odeio as garotas. Mas na maioria das vezes, eu amo as garotas e odeio os garotos.
   Não me dou mais tão bem com o sexo oposto desde que esse passou a me ver com olhos maliciosos. Mas ainda admiro a força e a coragem dos garotos e dos homens. 
  Amo ser uma garota e sou muito vaidosa. Esse lance de que toda lésbica tem de ser masculina e feia, é mentira. Claro que algumas garotas se sentem bem se vestindo como garotos. Eu também gosto de usar jeans e camiseta e ficar sem maquiagem às vezes. Mas só às vezes. Eu gosto de usar saias, vestidos e me maquiar. É justamente por ser mulher e amar outras mulheres que eu me valorizo. Que amo ser uma garota!
   
  Outra coisa sobre lésbicas que as pessoas dizem é que elas são lascivas e dão em cima de qualquer mulher. Pura mentira! Eu, pelo menos não sou assim e sou HIPER seletiva. Não me apaixono por qualquer pessoa e não confundo as coisas. Não gosto de garotas mais jovens e inexperientes. Não é preconceito. Eu só acho que quando se é muito jovem, ainda não se tem certeza de nada. Nada está definido e as coisas podem mudar de repente. Não quero me arriscar a me relacionar com uma garota mais jovem e amanhã ou depois ser trocada por um homem. Isso seria horrível! 
    Eu gosto mais de garotas que de garotos. Não vou mentir, no fundo, ainda sonho com um príncipe encantado. Mas sou realista. O que vier primeiro, se príncipe ou princesa, estou pegando. Porque o verdadeiro amor independe de cor, raça e sexo.
 

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